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Lendas para além da oralidade

Com certeza, em algum momento da sua infância, você deve ter ouvido falar das lendas amazônicas, elas perpassam gerações através da oralidade tem como uma de suas principais características ser um aglutinamento de fatos reais com imaginários.

A lenda sempre busca relatar a relação do homem com a natureza, até chegar em um ponto que ambas se confundem, numa relação de dependência na interpretação dos fenômenos naturais com as ações do mundo fantasioso. Aí surgem as lendas para explicar a gravidez misteriosa da cunhã, navegadores sendo afogados, cobras grandes demais, um menino levado que vive nas matas, e tantas outras.

Geralmente, essas estórias nos são contadas na infância, mas não necessariamente o primeiro contato com elas é nesse período. Conforme vamos crescendo, essas narrativas vão se modificando e se adaptando.

De origem indígena ou cabocla, as lendas amazônicas estão na voz dos habitantes da região vivas e presentes, porque se trata da voz da terra, a voz fraternal das comunidades que, reunidas em círculos familiares, buscam preservar as histórias.

As lendas fazem parte do conhecimento do homem amazônico. A maior prova disso é que são retratados nas festas mais populares realizadas no estado, como é o caso do festival de Parintins e o carnaval. A nível nacional é impossível tentar retratar a Amazônia sem mencionar nem retratar seus contos e lendas.

Imagem do festival de Parintins, representação da cobra grande (imagem disponível em: http://4.bp.blogspot.com/-tCM8Nio64wo/UK1s1nzW6JI/AAAAAAAAMS4/26boDr2YBJ8/s640/117561933%5B1%5D.jpg)

Ainda hoje a história vive na mente do regional, principalmente na dos ribeirinhos.

“Eu cresci ouvindo essas histórias, na minha mente de criança tudo era real. Acredito na função que elas tinham, de serem até pedagógicas, porque eu deixava de brincar na mata com medo da caipora, ou de tomar banho no rio e o boto se transformar na minha frente. Teve um dia que eu e meu irmão estávamos brincando no igarapé perto de casa e ele disse ter visto a Iara acenar para ele. Depois disso ele disse que não ia mais se banhar lá com medo de ser levado para o fundo. ” – Leila Barroncas, tem 42 anos, nasceu em Autazes, interior de Manaus.

Moradia típica do Amazonas. (Imagem disponível em: https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/e/e7/Amazonia-moradia.jpg)

“A viagem para chegar aqui em Miritituba é ligeira. Pega uma canoa dá uns 3km, caminha um pedaço e chega aqui no sítio. As pessoas vêm para cá mais para pescar, como Miritituba é conhecida como fim do lago, sempre tem gente que diz que já viu a cobra grande, muito pescador tem medo e diz que viu só as luzes dos olhos dela. Eu não acredito nisso, mas o rio Tapajós é traiçoeiro, isso é verdade. ” Diego Carmona, 34 anos, nascido em Miritituba no Pará.


Viagem de canoa para chegar em Miritituba (arquivo pessoal)

Segundo Luiz Colares Ferreira, 93 anos, filho de pescador, nascido na comunidade do Piraquara no interior do Pará, conhecido também como lago grande ou lago das cobras, desde pequeno seu pai contava que quando a lua estava ficando cheia ele não saia para pescar, pois era um dia que a cobra grande se movimentava nas águas profundas, criando banzeiros que naufragavam as pequenas embarcações e matava os ribeirinhos. Sua mãe não o deixava brincar na beira do lago pelo perigo da Cobra grande.

“Ah, essas lendas eu ouvia desde pequeno, minha mãe contava a do curupira, da iara, do boto rosa para assustar a gente”. Conta Luiz Colares.

Quando questionado sobre ainda continuar passando essas estórias para seus netos, mantendo assim o legado cultural das lendas, ele diz: “Esses meninos de hoje em dia não param mais para ouvir isso não. Antes nós tínhamos medo da natureza e pensávamos bem antes de ir brincar nas matas. Agora, está todo mundo desacreditado. ”

Fonte consultada:

LIMA, Antonia Silva de. A lenda da Vitória-Régia: dois olhares para um destino. Tese de Doutorado. Porto Alegre. Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul. 2002.

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 O amazônia 360° 

 

O homem e o rio são os dois mais ativos agentes da Geografia humana da Amazônia. O rio enchendo a vida do homem de motivações psicológicas, o rio imprimindo à sociedade rumos e tendências, criando tipos característicos na vida regional.

 

Livro: O Rio Comanda a Vida

 

(TOCANTINS, 1972, p.276)

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